Sargento diz que "Estado de Guerra" se baseia em si
“The Hurt Locker” (Estado de Guerra), o filme galardoado, no domingo passado, com seis Óscares, incluindo os de Melhor Argumento Original, Melhor Filme e Melhor Realizador – e que consagrou Kathryn Bigelow como a primeira mulher a vencer esta categoria dos prémios da Academia de Hollywood -, conta a história de uma unidade de soldados norte-americanos em missão no Iraque, especializada no desarmamento de bombas.
Mark Boal, o argumentista de “Estado de Guerra” escreveu, em 2005, um artigo para a Playboy sobre a unidade do Sargento Jeffrey S. Sarver, um militar do exército americano no Iraque, cuja especialidade é – como a da personagem principal do filme, o Sargento Will James, interpretado por Jeremy Renner – desarmar bombas. O artigo chama-se "The Man in the Bomb Suit" (O homem no fato de bomba) e foi o ponto de partida para o argumento do filme de Kathryn Bigelow.
Na semana passada, antes de serem conhecidos os vencedores dos Óscares, Jeffrey Sarver anunciou, através de um comunicado divulgado pelos seus advogados, que decidiu processar o argumentista e os produtores do filme porque, alega, “virtualmente, todas as situações retratadas no filme aconteceram de facto com o Sargento Sarver e foram testemunhadas e documentadas”.
O comunicado, citado pelo L.A. Times, chega mesmo a afirmar que o “Sargento Jeffrey S.Sarver é, de facto, a personagem principal do filme” e que “The Hurt Locker” (título original do filme e que significa um estado de sofrimento extremo, sem possibilidade de exteriorização) é uma expressão utilizada por Sarver que os responsáveis pelo filme decidiram utilizar sem seu conhecimento ou autorização. Sarver diz ainda que os responsáveis pelo filme “afirmam de forma falsa” que as personagens e situações do filme são fictícias e que foi “enganado” pela produção para não obter compensações económicas pelo seu contributo para o filme.
Em declarações ao L.A.Times, o argumentista nega a versão do sargento: “Penso que Sarver é um soldado corajoso e um bom homem. Como muitos soldados, identifica-se com o filme, mas a personagem que escrevi é ficcional”. Boal diz ainda que o filme é “um trabalho de ficção inspirado em histórias de muitas pessoas”, mas o artigo do L.A. Times nomeia várias semelhanças entre as descrições que o jornalista faz no artigo da Playboy e cenas descritas no argumento, como a de uma caixa com componentes de bombas que o Sargento Sarver e a personagem de “Estado de Guerra” guardam debaixo da cama.
Para Mark Boal, a expressão que Sarver diz ter cunhado também não é uma apropriação indevida, por se tratar de “calão militar” que ouviu de muitas pessoas. Boal justifica a indignação de Sarver com o facto de o Sargento não ter ficado contente com o artigo da Playboy e contou ainda ao L.A. Times que o convidou para a ante-estreia do filme. Segundo o argumentista, Sarver não só não ficou aborrecido como lhe disse que gostou do trabalho final e convidou alguns dos intervenientes para visitar a base militar onde estava destacado.
Aclamado pela crítica, “Estado de Guerra” foi o filme menos lucrativo de sempre a receber o Óscar de Melhor Filme, tendo feito, à data da cerimónia, 11 milhões de euros em receitas. O seu rival na corrida ao Óscar de Melhor Filme, “Avatar”, conseguiu, até agora, quase dois mil milhões de euros, o que o torna no filme mais rentável de sempre. Além dos lucros, os custos de produção de “Estado de Guerra” são igualmente baixos, cerca de 10 milhões de euros.
O Sargento Jeffrey S. Sarver pede aos responsáveis pelo filme cerca de 390 mil euros por danos morais. Ao receber o Óscar de Melhor Realizadora, Katheryn Bigelow dedicou a vitória a todos os militares que arriscam a vida pelos Estados Unidos da América em missões de guerra.